sábado, 28 de janeiro de 2017

Que orgulho terão os nossos ascendentes?

O meu pai, que não me criou, está agora numa situação deplorável financeiramente.
No meio de um mar de dívidas, já pensei que ele tivesse perto do abismo diversas vezes, e tive que ir ao seu encontro, na cidade onde ele vive, para evitar que o pior acontecesse. Nessa época estava eu a terminar a licenciatura em Lisboa e trabalhava à noite, ainda foi fácil pedir uma licença sem vencimento para passar uns dias com ele.
Tem vários filhos, mas vivia sozinho. Sem mulher.
Reformado agora de uma posição boa, recebe uma reforma choruda que está penhorada devido a dividas.
Coisas que ele fez, e que embora não tivesse certo, dou muito as culpas à forma errada como o sistema está feito.
Penhoras, casa sem estar a ser paga, carro sem estar a sem pago..."Era isto a vida que me querias passar, papá?"
A ultima vez que falei com ele há dias, disse-me que não podia sair de casa porque estava sem dinheiro para gasolina. E que ele e o meu irmão nesse dia não tinham almoçado (para poupar).
Os que não passaram por isso vão dizer:
- Ele pode sair, não tem que ser de carro.
- Alguém que tudo teve de certeza, e que vigarizou o sistema.
- Não almoçar uma vez, não faz mal nenhuma!
Eu, que estou a passar por isso a primeira vez na minha vida à séria, tenho de dizer que uma pessoa que se sente mal por não ter dinheiro, e por ver a vida a descambar de um momento para o outro, sem qualquer rumo, sem qualquer luz, só pensa em morrer! Não sai de casa a pé, não tem vontade de andar, de ser visto, que o comentem, que falem dele, que o olhem. Não sai a pé, nem de carro ( que ainda lhe daria alguma liberdade, para se esconder, para ir até um pouco mais longe, para beber o seu café (não digam que são vícios).
E * o meu pai não vigarizou nada, foi uma acumulação de erros, e prejuízos que a sua empresa teve, uma dúzia de pessoas ficou a dever-lhe milhares de euros, depois a falência.
Quando falo com ele costuma-me. Recentemente parece que estamos a concorrer, e a ver quem está pior. "Aqui não temos nada para comer" "Aqui também não". Que aberração !
Gostava de ter a capacidade de ajudar, de ter aquele pé de meia que se conquistava nos anos 80, e que os meus avós tanto me ensinaram! A mãe do meu pai, ela , ela sim foi uma heroína, que construiu um pequeno castelo à conta dos salgados que confeccionava . Tenho a certeza que ela não estará feliz, com a vida do meu pai.
Tenho pena que tenhamos chegado a um capítulo deste livro da vida, e não darmos orgulho a nenhum ascendente nosso. E ao mesmo tempo que eu tenho discernimento para valorizar a vida, sei exactamente como é não enxergar luz para continuar...

Sem comentários:

Enviar um comentário