quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Há muito que penso em tornar público o meu percurso de vida adulta. Depois de "casada". Depois de "junta". De sair de casa da minha mãe. E depois de ter tido um filho.
Apresento-me: Sou uma sem notas. Nunca vou revelar a minha identidade, por vergonha, sim! Vivo com o meu marido, embora nunca tenhamos casado no papel. Ele não é português e está há 14 anos longe do seu país e há esse tempo todo sem ver a família. Temos um filho de 3 anos, lindíssimo, mais ou menos saudável.
Eu tenho 35 anos, há 6 anos que sou licenciada em Turismo.
Vivemos nos arredores de Lisboa, e todas as oportunidades estão...ou estariam.

Decidi finalmente expôr, uma série de desabados que não consigo conter mais cá dentro. Vivemos num mundo de dificuldades, embora sem sempre aparentamos. Tenho conhecimento que ao meu redor, os meus amigos vivem uma situação idêntica. A maior parte afastou-se por vergonha. À pergunta: "Estás bem"?, a resposta iria ser :" o que queres que te diga?", e para evitar responder dessa maneira, melhor não dizer nada. Vivemos em silêncio e fazemos um esforço amarelo para estar bem, é tabu falar-se de como se está. 
Quero muito representar estas pessoas, faze-las ouvir por simples contos do meu dia a dia, tão semelhantes às dos seus dias. 
Somos filhos de quem conquistou muito com seu suor, nos anos 80, 90. Somos pessoas que não conseguem conquistar nada no presente. Somos a descendência sem notas no bolso, sem notas no banco, sem notas entre os livros. Somos nada. Não conseguimos sair deste mesmo lugar, com curso, sem curso, com experiência ou sem.

Fiquem com as minhas Notas de Conto...ou os meus contos sem notas.

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